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A Cia Poéticas da Cena Contemporânea realiza a criação dramatúrgica colaborativa desde sua origem e durante toda a sua trajetória. Foi assim com os espetáculos “Pele” e “Quando Acordar a Cidade” (de 2019), e “1983 Um Ano que Não Terminou” (2022)  em colaboração com nossos parceiros PCDs. O mesmo com “Dramaturgia In Performance” (2018), escrita realizada em projeção ao vivo enquanto atores improvisam com “regras de jogo” sugeridas por um encenador. Foi assim com os espetáculos performativos “Love Fair”, “Veto a Voz” e “Amor em Tempo de Modernidade Líquida” (2017) e com as adaptações das fábulas “Alice No País das Maravilhas” (2016) e “Peter Pan” (2017), quando a companhia era sediada na Universidade Vila Velha e contava com o CNPQ e FUNADESP para o apoio à pesquisa.

A ideia da instauração de um laboratório de criação dramatúrgica para crianças vem da percepção de um vácuo no estado, onde a maior parte da produção está calcada em adaptações das partituras e narrativas mimetizadas da produção Audiovisual, resultando em uma estética do pastiche. E vem do desejo de proporcionar experiências de ressignificação do mundo a partir da exploração de narrativas sobre coisas simples e cotidianas: explorar “de onde vêm as coisas”; situações e detalhes, promovendo a aderência de forma lúdica.

Para isso, a companhia se organizou em três núcleos de trabalho, cada qual com um trio de artistas: Rejane Arruda, Fagner Soares e Renza Luiza, construíram “Fita e Chulé”; Sabrina Paula, Juliana Neves e Mariana Zanelatto construíram “As Meninas de Cabelo de Pano”; e Rafael Teixeira, Alexia Chaves e Alberto Contarato, construíram “Charlote Sem Nome”.

O objetivo do coletivo e disponibilizar textos que possam estar atendendo à demanda de um Teatro para crianças dentro das escolas, para a realização em lugares inóspitos e diversos, sem aparato teatral ou técnico, isto porque a força da dramaturgia está na ludicidade dos corpos, invenção da linguagem, nas narrativas e dramatizações a respeito dos objetos do mundo. Pretende-se assim contribuir para a cena teatral no Espírito Santo, no que se refere ao Teatro Para Crianças.

Em “A História das Coisas”, a origem dos objetos é encenada de forma lúdica, na medida em que os corpos são parte preponderante da cena, propondo uma escrita dramatúrgica que descreve relações espaciais e temporais, ações físicas, qualidades de movimento e voz; produzindo a acoplagem entre a palavra e a corporeidade, e transformando materiais historiográficos em materiais cênico-dramáticos, inscritos em situações reconhecíveis através da vivência da fruição estética.

Estas "coisas do mundo" têm passado, origem, lugar; uma tessitura de séculos ou milênios às vezes; transpassam o tempo e sobrevivem; deslocam-se; nascem em um canto e vêm parar em outro. A trajetória destas coisas, naturalizadas, pode ser vista com distanciamento e curiosidade, em um misto de diversão, poética, inventividade e ciência, contribuindo para a formação das crianças.

A dramaturgia, realizada em processo laboratorial, amplia perspectivas, não só estéticas mas também temáticas, permitindo o conhecimento do mundo e a elaboração de afetos, representações e ludicidade de situações, para a construção de um olhar sobre si. Pode-se dizer que, junto ao encanto pelo Teatro, interroga-se maneiras de ser e se relacionar, pensar e agir, possibilitando novas formas de convívio. 

Contracenando com as histórias, a criança ressignifica seu lugar neste "mundo de tantas coisas". Na medida em que aprende a pensar sobre as coisas do mundo, torna-se também agente das relações com o mundo das coisas.

 

Rejane Arruda.

Coordenadora do Projeto

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