Em entrevista para a equipe do projeto "Feriado também é dia de ir ao Teatro", a Cia Poéticas da Cena Contemporânea contou "de onde vem e para onde vai".
Equipe Feriado: Como nasceu o grupo? Qual a sua história?
Cia Poéticas: O grupo nasce da UVV, do curso de Artes Cênicas, como projeto de extensão. Ele inclui os alunos que compõe as peças teatrais dirigidas pela atriz e encenadora Rejane Arruda que dá aula no curso e concebeu a Cia como extensão-UVV. Estes alunos aos poucos se profissionalizam. Aos poucos, conquista-se a autonomia. O objetivo é este. É conquistar mercado e outras formas de sobrevivência. A Cia sonha em ter uma sede própria e financiamento para os trabalhos, acho que como toda cia. Mas tudo é pensado a longo prazo. Acreditamos no tempo, que ele pode amadurecer um repertório, uma linguagem, uma pesquisa e formas de vida.
Equipe Feriado: Qual sua "pegada"? Procedimentos, estética, princípios de trabalho?
Cia Poéticas: Existe uma "pegada" dramático-performativa, ou seja, há uma presença preponderante da palavra extraída de um texto em uma estética que se pretende pós-dramática, por partir do fragmento e do hibridismo. De maneira que nossa pesquisa perpassa por diferentes escolhas estéticas. Uma peça é bastante diferente da outra. Se formos comparar Alice Uma Quase Ópera Punk-rock Contemporânea e Peter Pan, por exemplo, uma prima pela visualidade da projeção e uma trilha sonora marcante que vai do punk-rock (como o nome diz) ao jazz. Já Peter Pan não tem música ou projeção, é mais artesanal. Por outro lado, tem seis microfones e a pesquisa da paisagem sonora. Os dois se cruzam no quesito "jogo com plasticidade corporal e aleatoriedade". Há pontos da pesquisa que se mantém, como o jogo com regras aleatórias, que definem uma borda entre sentido e não sentido. O trabalho com a palavra nos levou ao View-point da Voz e outros procedimentos. Em Paraíso fugimos do texto, é um dos únicos trabalhos sem material textual prévio. Agora estamos trabalhando Vestido de Noiva, retornando à peça dramática (agora com Nelson, passamos já por Plinio). O desafio é manter a "pegada" performativa com o texto dramático. Para isso, o princípio é o jogo e não a representação. "Vestido" tem algo de Alice. As peças dialogam.
Equipe Feriado: Quais as estratégias para crescer e se desenvolver?
Cia Poéticas: Para nós, é a Pedagogia. Nascemos em uma universidade. Isto nunca vai ser superado, no sentido de que estão no nosso DNA a pesquisa e a pedagogia. Temos projetos de inclusão, com oficinas e montagens para cegos, surdos e cadeirantes. Estes projetos são a nossa âncora. A perspectiva do teatro para todos, da transmissão, ampliação de horizontes. Através deles que, pensamos, poderemos sobreviver. Na medida em que investirmos em projetos e dispositivos de transmissão, ampliando os horizontes do grupo.
Equipe Feriado: Como vê o cenário atual no Espírito Santo e quais os planos para o futuro?
Cia Poéticas: O momento em que estamos é assustador. Conforme resultado das eleições estará tudo perdido. Não será possível que um candidato de extrema direita mantenha verba para a cultura, o que nos restou. Não será possível. E cultura depende de políticas publicas, de investimento. A Alemanha é o país que mais tem companhias de teatro estatais, com os atores com carteira assinada, sendo trabalhadores do Teatro, dos palcos, da Arte Cênica. Aqui não temos isso, necessitamos da Pedagogia e dos editais. Se eles somem, será muito difícil se manter. Enquanto plano, temos a profissionalização. Mas isto a longo prazo. O sonho é ser como um Grupo Corpo ou Galpão? Não sei! Um CPT, que é bancado pelo SESC? Rouanet? Quais são os mecanismos? Abrir uma escola? Estamos em um momento difícil, mas é certo que resistiremos.
Para conhecer mais a Cia Poéticas da Cena Contemporânea acesse https://ciapoeticas.wixsite.com/ciapoeticas
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